Especialistas apontam o
atraso na adoção de combustíveis limpos como uma das causas da alta
mortalidade indicada por estudo da OMS
Mais de 7 milhões de pessoas morreram em todo o mundo, em 2012,
por motivos relacionados à poluição do ar. Isso representa uma em cada
oito mortes registradas naquele ano – mais que o dobro das medições
anteriores. Os dados, divulgados no final de março, são da Organização
Mundial da Saúde e revelam que 4,3 milhões de óbitos têm a ver com a
poluição em ambientes fechados, provocada pelo uso de fogões a carvão,
madeira e biomassa.
Para especialistas em poluição atmosférica, os números são
alarmantes e refletem o impacto do crescimento da frota automotiva sem o
avanço, na mesma velocidade, de novas tecnologias limpas de
combustíveis, além do baixo nível de controle sobre a qualidade do ar.
A OMS não tem os dados separados por países, mas divulgou as
estimativas de mortes em algumas regiões do planeta. De acordo com a
organização, dos 227 mil óbitos registrados nas Américas, 131 mil
ocorreram em países com baixo ou médio nível de renda. Países do
sudoeste asiático e do pacífico ocidental acumularam mais de dois
milhões de óbitos.
Segundo Carlos Corvalan, assessor em avaliação de risco e mudança
ambiental global da OMS, os dados dos países das Américas não são os
maiores do planeta, mas ligam o sinal de alerta. “São mortes que
poderiam ser evitadas se houvesse um controle mais rigoroso. A
organização deve divulgar os dados por países daqui dois meses e aí
saberemos como está o Brasil.”
Para o consultor em sustentabilidade Fabio Feldmann, países
emergentes ainda estão atrasados no uso de novas tecnologias. “Em
países mais desenvolvidos, você trabalha com combustíveis mais limpos.
Aqui no Brasil, por exemplo, a frota de caminhões tem média de 18 anos
de idade e a maior parte dela roda com diesel de má qualidade.”
Doenças
As doenças mais comuns relacionadas à má qualidade do ar foram as
cardiovasculares, como derrames e problemas cardíacos, mas 6% das mortes
estão ligadas ao câncer no pulmão. No total, 3,7 milhões de óbitos
foram colocados na conta da poluição atmosférica. Como há muitas pessoas
expostas às duas fontes, não é possível apenas somar as mortes ligadas
aos poluentes externos e internos – daí a estimava de sete milhões de
óbitos.
O especialista em poluição Alfred Szwarc ressalta o impacto do ar de
ambientes fechados no estudo. “É significativo que mais da metade dessas
mortes tenha ocorrido devido aos poluentes em ambientes internos. No
caso do estudo, isso se refere, principalmente, ao uso de combustíveis
sólidos, como carvão e lenha, para preparação de alimentos em
comunidades pobres da Ásia e da África”, afirma.
Mais mortes
Os dados da OMS de 2012 revelam crescimento em relação aos números
até então disponíveis. No caso da poluição atmosférica, houve quase três
vezes mais mortes (3,7 milhões de casos ante 1,3 milhão de 2008). Para a
poluição interna, a letalidade dobrou – passando de dois milhões de
casos em 2004 para os 4,3 milhões de dois anos atrás. O aumento da
mortalidade, segundo a organização, não se deve apenas ao conhecimento
mais amplo das doenças ligadas ao tema, mas também à melhor avaliação da
exposição humana a poluentes.
Gazeta do Povo
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