Jennifer Connelly e Russel Crowe: o elenco poderia fazer a diferença no filme, mas não consegue
Para
contar no cinema uma das histórias mais grandiosas da humanidade, o que
se espera é um filme grandioso. E Noé apenas finge ser um.
O
ator é um nome de peso, com Oscar e tudo. Há tecnologia e dinheiro para
criar a arca gigante e o dilúvio. Tudo narrado em tom épico, certo?
Mas
Russell Crowe está péssimo, a arca é só um caixote boiando numa
banheira e a história, simplória, tem batalhas que parecem rejeitadas de
O Senhor dos Anéis.
O diretor Darren Aronofsky vem de dois belos acertos, O Lutador e Cisne Negro, este um filme surpreendente.
É
evidente que fica difícil alguma surpresa quando todo mundo já sabe o
roteiro: Noé é o homem escolhido por Deus para construir a arca, colocar
nela sua família e um casal de cada espécie animal na Terra, para
repovoar o mundo depois do dilúvio divino.
Aronofsky simplifica a história ao máximo e tudo deságua num irritante filme esquemático e de pobreza visual.
Quando
Noé conta a história da criação do mundo para sua família, imagens
estáticas são trocadas em ritmo acelerado, como se fosse a vinheta de
abertura da série de TV The Big Bang Theory.
A entrada
dos animais na arca poderia ser um bom ingrediente para imagens
espetaculares, mas os resultados na tela não têm brilho algum.
Criar os bichos gráficos deve ter dado um trabalhão, que é matado em cenas curtas, numa direção nada inspirada.
Quando
Noé precisa impedir que uma grande horda entre à força na arca, quem
aparece para ajudá-lo são os Guardiães, gigantes de pedra que Deus
abandonou na Terra.
Essas criaturas dormem escondidas como
rochas amontoadas e, se Noé é ameaçado, se erguem para lutar, feito
desajeitadas versões dos robôs de Transformers.
O elenco
poderia fazer a diferença, mas não consegue. Anthony Hopkins surge como
Matusalém, avô de Noé; sua vocação atual se resume a tipos idosos
sábios, como seu Odin na franquia Thor.
A mulher e os filhos de Noé são lindos. Jennifer Connelly fica deslumbrante até coberta pela lama do dilúvio.
Russell
Crowe assume de vez o lugar de Charlton Heston de sua geração, ambos
atores encorpados, de voz grave e missões heroicas.
Heston foi gladiador em Ben-Hur e Moisés em Os Dez Mandamentos; Crowe ficou célebre em Gladiador e foi opção óbvia para Noé.
Reformatar
a humanidade é demais para um ator preso a uma única expressão durante
todo o filme. Se havia alguma chance de criatividade no roteiro, estava
na loucura crescente de Noé durante sua missão, mas Crowe é incapaz de
demonstrar tanta sutileza.
Com mais de duas horas, o filme vai cansando. Recorrendo a outro sofrido personagem bíblico, é preciso paciência de Jó para aguentar Noé.
(Thales de Menezes, da Folhapress)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
EXPRESSE O SEU PENSAMENTO AQUI.