Com venda aprovada nos EUA, produto deve chegar em 2016 ao Brasil, onde doença atinge 12 milhões
Deixar
de lado as molestas agulhas que acompanham os diabéticos por muito
tempo pareceu um sonho. Agora, está prestes a se tornar realidade, pelo
menos parcialmente. Aprovada recentemente pela Agência de Alimentos dos
Estados Unidos (FDA), a insulina inalada aparece como uma nova opção
para o controle de açúcar no sangue em pessoas que sofrem do tipo 1 da
doença, e como um alento a quem tem real pavor às injeções diárias.
Segundo o fabricante, os níveis de insulina são alcançados de 12 a 15 minutos após a inalação
Especialistas veem resultado com cautela
A segurança e a eficácia do novo medicamento foram avaliadas em um estudo que contou com mais de 3 mil participantes que sofriam de diabetes tipo 1 ou 2. A comparação foi feita entre a insulina inalada e a de ação rápida – ambas em combinação com a basal (de ação lenta), durante 24 semanas. O processo foi repetido em comparação com outros tipos de medicamentos antidiabéticos orais, normalmente usados por quem sofre do tipo 2 . Em todos os casos, os resultados da terapia inalada foram satisfatórios.
Os resultados a longo prazo, entretanto, ainda são vistos com cautela por especialistas. O endocrinologista Giuseppe Repetto, chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital São Lucas da PUC-RS, explica que entre 2006 a 2007 foi lançada no mercado uma versão de insulina inalada, também aprovada pela FDA. Este medicamento, que acabou sendo comercializado em diversos países, inclusive no Brasil, teve que ser retirado do mercado em poucos meses. Entre os motivos, estavam o tamanho do aparelho (muito maior do que o novo, e que acabou não atraindo os usuários) e o fato de que muitos pacientes apresentaram problemas respiratórios pela inalação do produto.
Efeito colateral?
“A vantagem do novo medicamento é que as partículas são bem menores e, conforme os resultados da pesquisa, não ficam retidas nos brônquios, evitando os problemas respiratórios. Entretanto, somente quando começar a ser comercializada e usada em maior escala poderemos ver se há outros efeitos colaterais”, comenta o médico.
Apesar da previsão para lançamento no mercado brasileiro em 2016, a data exata ainda é uma incógnita, já que depende de um pedido da própria indústria à Anvisa para a aprovação aqui no Brasil, o que normalmente ocorre um ano após a circulação do medicamento nos Estados Unidos, prevê Repetto.
Nos EUA, a venda do medicamento, que ganhou o nome comercial de
Afrezza, deve iniciar em 2015. Por aqui, a expectativa é que, a partir
de 2016, possa ser encontrada em farmácias e drogarias.
O Afrezza é um pequeno inalador, semelhante a uma bombinha de asma,
que contém em seu interior pequenas partículas de insulina. Quando
aspiradas pela boca, são absorvidas no pulmão e entram na corrente
sanguínea. O medicamente substitui a injeção de insulina de rápida
absorção, a maior companheira de quem sofre de diabetes tipo 1 (doença
que é desencadeada quando o organismo não produz esse hormônio). O
medicamento, tanto injetável quanto inalado, é aplicado várias vezes ao
dia, sempre antes das refeições, já que quando a pessoa se alimenta,
precisa de grandes quantidades de insulina para retirar o açúcar do
sangue e transformá-lo em energia.
Assim como na injeção, a empresa MannKind, responsável pelo novo
medicamento, afirma que com a inalação os níveis de insulina são
alcançados de 12 a 15 minutos após a administração.
Para o endocrinologista Balduíno Tschiedel, presidente do
Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (Sbem), a aprovação do órgão americano representa um avanço
no tratamento da doença. Entretanto, ela não livra totalmente os
pacientes das temidas injeções, já que existem dois tipos delas, e o
novo medicamento substitui apenas um.
“A insulina inalável substitui apenas a injeção de rápido efeito, que
deve ser aplicada sempre antes de cada refeição, em uma média de três a
cinco vezes ao dia. A injeção de efeito lento, que é aplicada em torno
de duas vezes ao dia, deve continuar sendo aplicada mesmo com a
introdução da insulina inalada”, explica.
Gazeta do Povo
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