Uma manobra equivocada, em alta velocidade, pode ter feito o avião
que levava o presidenciável Eduardo Campos (PSB) mergulhar em direção ao
solo, matando o candidato e outras seis pessoas. A hipótese é analisada
por especialistas da Aeronáutica como uma das mais prováveis para
elucidar a queda, ocorrida em Santos (SP) no dia 13 de agosto.
No manual de instrução do jato Cessna Citation no qual voava Campos
há uma restrição segundo a qual os flaps não podem ser recolhidos se o
avião estiver em velocidade acima de 200 nós, ou seja, mais de 370 km/h.
Se essa manobra for feita, alerta o fabricante, ocorre um "put down"
(baque) violento, movimento que puxa o avião para baixo, tirando a
estabilidade da aeronave a ponto de desorientar o piloto. Os flaps são
como extensões das asas e ajudam na sustentação em voo e frenagem do
avião no solo.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
(Cenipa), da Aeronáutica, já constatou que os flaps da aeronave estavam
recolhidos.
Resta saber se isso foi feito a uma velocidade compatível ou,
conforme adverte o fabricante, em velocidade acima de 370 km/h, o que
pode ter causado o mergulho "de bico" em direção ao solo. O manual do
Cessna Citation XLS é explícito, na parte de Controle de Voo.
O piloto pretendia pousar na Base Aérea de Santos, localizada no
município vizinho de Guarujá (SP). Conforme o operador da base,
utilizada como aeroporto na região, ouvido informalmente pela comissão
de investigação, o comandante do Cessna Citation estava tranquilo quando
informou que iria arremeter. Assim como quando respondeu que iria
esperar o tempo melhorar para tentar nova aterrissagem.
Especialista analisa a falta de sustentação
Na hora do acidente em Santos, o vento soprava de cauda (condição que
causa instabilidade em pousos), havia neblina e chovia. Dificuldades
adicionais a um pouso em alta velocidade, como é o de um jato.
Cláudio Scherer, professor de Técnicas de Operação de Jato na
Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS e piloto há 48 anos, admite
que é possível o comandante do Cessna ter acelerado acima de 200 nós com
flaps baixados, "mas pouco provável".
– Acho mais provável que o acidente tenha ocorrido por outra falha:
ele tentou fazer a curva fechada em velocidade baixa e o avião estolou
(perdeu sustentação), caindo rumo ao solo – pondera o professor.
ZH solicitou que a fabricante do avião acidentado, a Cessna Company,
nos EUA, comentasse a possível causa do acidente. Até o início da noite
de ontem, a empresa não deu retorno.
Dificuldade é comprovar dados
Investigador de desastres aéreos e autor do livro A Zona da Morte
(lançado nesta semana no Brasil), o piloto americano Paul Craig afirma a
ZH que a possibilidade surgida agora de um erro na condução da
arremetida se encaixa na estatística: 70% dos acidentes com aviões
envolvem falhas humanas. Especialmente sob mau tempo, como ocorreu em
Santos no último dia 13.
Será difícil comprovar essas hipóteses e identificar as diferentes
velocidades adotadas pelo avião quando se aproximava da pista. O Cessna
não tinha, como equipamento de série, um gravador de dados, com
informações sobre altitude e comandos efetuados pelo piloto. Também não
foram gravadas as conversas mantidas pelos piloto e copiloto na cabine,
talvez por um problema elétrico.
ZERO HORA com agências de notícias
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