Retorno à África
Diversas comunidades de escravos libertos no Brasil retornaram à África entre os séculos XVIII e XIX.36 Entre eles destacam-se os Tabom, retornados ao Gana em 1835-36,37 e os Agudás ou Amarôs, no Benim, no Togo e na Nigéria. Numerosos, esses "brasileiros" estabeleceram-se na região da antiga costa dos Escravos - que abrangia todo o golfo de Benim, indo da atual cidade de Lagos, na Nigéria, atéAcra, em Gana. Milton Guran em seu livro "Agudás – os “brasileiros” do Benin" resume: "Os “brasileiros” do Benim, Togo e Nigéria, também conhecidos como agudás, nas línguas locais, são descendentes dos antigos escravos do Brasil que retornaram à África durante o século XIX e dos comerciantes baianos lá estabelecidos nos séculos XVIII e XIX. Possuem nomes de família como Souza, Silva, Almeida, entre outros, festejam Nosso Senhor do Bonfim, dançam a burrinha (uma forma arcaica do bumba-meu-boi), fazem desfiles de Carnaval e se reúnem frequentemente em torno de uma feijoadá ou de um kousidou. Ainda hoje é comum os agudás mais velhos se cumprimentarem com um sonoro “Bom dia, como passou?” “Bem, ‘brigado’” é a resposta."38 39
Imigração africana recente[editar | editar código-fonte]
Nas décadas recentes, africanos negros têm imigrado ao Brasil,40 especialmente de países que falam português comoAngola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, em busca de oportunidades de trabalho ou comerciais.
Grupos étnicos
Os portugueses classificavam diversas etnias africanas de forma genérica, sem levar em conta as peculiaridades existentes entre esses diferentes grupos. De maneira geral, os escravos eram identificados de acordo com a região do porto onde embarcaram. Em consequência, um grupo classificado como único pelos portugueses poderia, de fato, abarcar diversas etnias dentro dele. Os oeste-africanos, oriundos da denominada Costa da Mina, sobretudo da atual Nigéria e doBenin, eram genericamente denominados de escravos minas ou sudaneses, embora dentro desse grupo genérico eram incluídas etnias diversas, como os nagôs, jejes,fantis e Axântis, gás e txis (minas), malês (islamizados), hauçás, kanuris, tapas,gruncis, fulas e mandingas. Muitos dos escravos trazidos da Costa da Mina eram seguidores da religião muçulmana. Alguns deles sabiam ler e escrever em árabe, fato inusitado no Brasil colonial, onde a maioria da população, inclusive a elite, era analfabeta. A influência islâmica desses escravos pode ainda ser vista em Salvador, sobretudo no vestuário das baianas, com seu característico turbante muçulmano, saias largas e compridas, xales e mantras listradas.41
O outro grande grupo que veio para o Brasil foi o dos bantos, a maioria oriunda de Angola, mas esse grupo incluía também escravos de lugares longínquos, como Moçambique.42
Bantus[editar | editar código-fonte]
Os Bantus são descendentes de um grupo etnolinguístico que se espalhou rápida e recentemente desde a atual região de Camarões em direção ao sul, atingindo tanto o litoral oeste quanto o leste da África. Como esta expansão foi recente, as diferentes nações Bantus têm muitos aspectos étnico-culturais, linguísticos e genéticos em comum, apesar da grande área pela qual se espalharam.43
Os Bantus trazidos para o Brasil vieram das regiões que atualmente são os países de Angola,República do Congo, República Democrática do Congo, Moçambique e, em menor escala,Tanzânia. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em Cassangas, Benguelas,Cabindas, Dembos, Rebolo, Anjico, Macuas, Quiloas, etc.
Constituíram a maior parte dos escravos levados para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e para a zona da mata do Nordeste.30 34 33
Oeste-africanos
Os oeste-africanos provinham de uma vasta região litorânea que ia desde o Senegal até à Nigéria, além do interior adjacente. A faixa de terra fronteiriça ao sul da região do Sahel, que se estende no sentido oeste-leste atravessando toda a África, é denominada Sudão. Frequentemente, os escravos de origem oeste-africana são chamados de sudaneses, o que causa confusão com os habitantes do atual Sudão, que comprovadamente não teve sua população escravizada nas Américas. Além disto, apenas parte dos escravos de origem oeste-africana vieram da vasta região chamada Sudão. Os nativos do oeste-africano foram os primeiros escravos a serem levados para as Américas sendo chamados, nesta época, de negros da Guiné.33
Os oeste-africanos eram principalmente nativos das regiões que atualmente são os países deCosta do Marfim, Benim, Togo, Gana e Nigéria. A região do golfo de Benim foi um dos principais pontos de embarque de escravos, tanto que era conhecida como Costa dos Escravos. Os oeste-africanos constituíram a maior parte dos escravos levados para a Bahia.30 Pertenciam a diversos grupos étnicos que o tráfico negreiro dividia, principalmente, em:
- Nagôs - os que falavam ou entendiam a língua dos Iorubás, o que incluía etnias como osKètu, Egba, Egbado, Sabé, etc;
- Jejes - que incluía etnias como Fons, Ashanti, Ewés, Fanti, Mina e outros menores como Krumans, Agni, Nzema, Timini, etc.
Os Malês eram escravos de origem oeste-africana, na maior parte falantes da língua haúça, que seguiam a religião muçulmana. Muitos deles falavam e escreviam em língua árabe, ou usavam caracteres do Árabe para escrever em haúça.41Além dos Hauçás, isto é, dos falantes de língua haúça, outras etnias islamizadas trazidas como escravos para o Brasil foram os Mandingas, Fulas, Tapa, Bornu, Gurunsi, etc.
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