Os africanos no Brasil
conseguiram preservar uma parca herança africana. Todavia, apesar de ter sido
pequena, essa herança africana, somada à indígena, deixou para o Brasil, no
plano ideológico, uma singular fisionomia cultural. Os negros trazidos como escravos
eram capturados ao acaso, em centenas de tribos diferentes e falavam línguas e
dialetos não inteligíveis entre si. O fato de todos serem negros não ensejava
uma unidade linguístico-cultural quando submetidos à escravidão. A própria
religião, que atualmente serve como união entre os afro-brasileiros, na época
da escravidão, devido à diversidade de credos, os desunia. Em consequência, a
diversidade linguística e cultural trazida pelos escravos, aliada à hostilidade
entre as diferentes tribos e à política de evitar que escravos da mesma etnia
ficassem concentrados nas mesmas propriedades, impediram a formação de núcleos
solidários que retivessem o patrimônio cultural africano. A cultura brasileira foi influenciada pela
africana, sobretudo nas áreas onde houve maior concentração do elemento negro
(no Nordeste açucareiro e nas regiões mineradoras do centro do país). Porém,
uma vez inseridos na nova sociedade, nela os escravos foram se aculturando. De
fato, enquanto nenhum idioma africano sobreviveu no Brasil, os negros,
ironicamente, tiveram papel crucial no "aportuguesamento" do Brasil e
na expansão da língua portuguesa. Eles foram o agente de europeização que difundiu
a língua do colonizador, ensinando aos escravos recém-chegados o novo idioma e
os aculturando no novo ambiente. Assim, o escravo transitava entre o negro
boçal, recém-chegado da África, sem saber falar o português ou o falando de
forma bastante limitada, sem que isso o impedisse de desempenhar as tarefas
mais pesadas. Por outro lado, havia o negro ladino, já adaptado e mais
integrado na nova cultura.
Apesar de não terem conseguido
preservar grande parte da sua herança, os africanos conseguiram exercer
influência no meio cultural em que se concentraram, influenciando o português
falado no Brasil e impregnando todo o contexto cultural com o pouco que pode
preservar. Nessa esteira, por exemplo, o catolicismo no
Brasil assumiu características populares mais discrepantes que
qualquer das heresias tão perseguidas em Portugal. A influência africana
sobreviveu, em grande parte, pelo menos no plano ideológico, nas crenças
religiosas e nas práticas mágicas, nas reminiscências rítimicas e musicais e
nos gostos culinários dos brasileiros.Uma das consequências do comércio de
escravos foi estabelecer contato entre o que estava afastado, provocando a
convivência de pessoas de diferentes origens e determinando a miscigenação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
EXPRESSE O SEU PENSAMENTO AQUI.