CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

domingo, 12 de abril de 2015

A MÃE DE DEUS VIVE E EU ACREDITO

Embalsamamento e eterno de Maria


            Quatro vezes vi os Apóstolos se revezarem, fazendo guarda de honra ao corpo sagrado e rezando. Hoje vi chegar algumas mulheres, entre as quais me lembro ainda da filha de Verônica e da mãe de João Marcos, que vieram preparar o corpo para a sepultura. Trouxeram lençóis e especiarias, para o embalsamar à moda judaica. Cortaram os caracóis mais belos da Santíssima Virgem, como lembrança e enrolaram o corpo, dos tornozelos até o peito, em lençóis e faixas de pano, bem apertados.

         Os Apóstolos assistiam, nesse ínterim, ao sacrifício solene celebrado por Pedro, recebendo com ele a sagrada Comunhão; depois vi Pedro e João, ainda revestidos dos grandes mantos episcopais, entrar pelo vestíbulo e aproximar-se do santo corpo. João levava um vaso com ungüentos e Pedro, imergindo o dedo da mão direita no vaso, ungiu a testa, o meio do peito, as mãos e os pés da Santíssima Virgem, orando. Não era a Extrema Unção, que já recebera ainda viva.
         Pedro passou o ungüento sobre os pés e as mãos; a fronte e o peito, porém, assinalou-os com o sinal da cruz. Creio que foi para prestar homenagem ao corpo sagrado, como o fizeram também ao sepultar o corpo do Senhor.

         Depois dos Apóstolos terem saído, continuaram as mulheres o embalsamamento. Puseram tufos de mirra sob os braços, nas axilas e no epigástrico; encheram também com a mesma os espaços entre os ombros, ao redor do pescoço e do queixo e as faces. Os pés estavam também cobertos de tais tufos de ervas aromáticas. Depois lhe cruzaram os braços sobre o peito, envolveram o corpo na grande mortalha e enrolaram-no com a faixa sob o braço, como uma grande boneca. Sobre o rosto lhe estenderam um sudário transparente, através do qual se lhe podiam ver as faces alvas e resplandecentes, por entre os tufos de ervas. Depois deitaram o corpo sagrado num caixão, semelhante a uma cesta comprida e sobre o peito de Maria uma grinalda de flores de cor branca, encarnada e azul celeste, como sinal de virgindade.

         Então entraram todos os Apóstolos, discípulos e outros presentes, para ver mais uma vez o santo e querido semblante, antes de ser coberto. Ajoelharam-se, por entre muitas lágrimas e em silêncio, em roda da SS. Virgem, tocaram-lhe as mãos já enfaixadas sobre o peito, despedindo-se e depois saíram. As santas mulheres despediram-se então também, cobriram-lhe depois a santa face e colocaram a tampa sobre o caixão, que fecharam, atando-o nas duas extremidades e no meio com faixas cinzentas. Depois vi que puseram o caixão sobre uma padiola e Pedro e João transportaram-no sobre os ombros para fora da casa. Devem ter-se revezado, pois mais tarde vi que seis Apóstolos o transportavam.

         Parte dos Apóstolos e discípulos precediam, outros e as mulheres seguiam o caixão. Já estava anoitecendo: levavam quatro lanternas sobre paus.

         Assim seguiu o cortejo pelo caminho da Via Sacra de Maria, até a última estação e, passando em frente à pedra que a assinalava, sobre a colina, chegaram ao lado direito da gruta sepulcral. Ali depuseram o santo corpo; quatro levaram-no para dentro da gruta e puseram-no no leito escavado na pedra. Todos os presentes entraram ainda um por um, espalhando flores e ervas aromáticas e ajoelharam-se, oferecendo com lágrimas as suas orações; a tristeza e o amor fê-los demorar ainda. Já era noite, quando os Apóstolos fecharam a porta do sepulcro. Cavaram um fosso diante da entrada estreita da gruta e plantaram uma sebe de vários arbustos verdes, dos quais parte estava florescente e parte já tinha brotos e que haviam sido transplantados de outro lugar, junto com as raízes, de maneira que não se podia ver sinal da entrada, tanto mais quanto fizeram passar um pequeno córrego em frente dessa sebe. Não se podia mais entrar na gruta senão passando pelo lado, por trás dos arbustos”.
       

            A Assunção de Maria


            Os Apóstolos, discípulos e mulheres voltaram separados, demorando-se ainda aqui e acolá, rezando nas estações da Via Sacra; alguns ficaram também velando em oração perto do sepulcro. Ao voltar, viram de longe, por cima do sepulcro de Maria, uma luz maravilhosa e ficaram muito comovidos, sem saber o que era.

         Vi ainda vários Apóstolos e algumas santas mulheres rezar e cantar no pequeno jardim, diante do sepulcro. Descia, porém, uma larga faixa de luz do céu até o rochedo do sepulcro e nela vi um esplendor de três círculos, de Anjos e almas, que rodeavam a aparição de Nosso Senhor e da alma gloriosa de Maria. A aparição de Jesus Cristo, com os sinais resplandecentes das chagas, pairava diante dela. Em redor da alma de Maria vi no círculo interior a luz, figuras de crianças, no segundo círculo pareciam meninos de seis anos e no círculo exterior jovens adultos. Vi-lhes distintamente os rostos; o resto vi apenas como formas luminosas. Quando esta aparição chegou até o rochedo, tornando-se cada vez mais clara, vi dali até Jerusalém celeste uma estrada de luz.

         Depois vi a alma da SS. Virgem, que seguia a aparição de Jesus, passar para a frente e entrar através da rocha no sepulcro, do qual pouco depois saiu unida ao corpo glorificado de Maria, muito mais clara e resplandecente e voltou com o Senhor e todo o glorioso séqüito, para a Jerusalém celeste. Depois desapareceu todo o esplendor e se via de novo a luz pálida do céu estrelado, que se estendia sobre a região.

         Se os Apóstolos e as santas mulheres, que rezavam diante do sepulcro, também o viram, não o sei; mas vi que todos olhavam para cima, orando cheios de admiração; outros, porém, atônitos se prostraram, tocando com o rosto a terra. Vi também alguns que voltavam para casa, levando consigo a padiola, entoando cânticos e orações no caminho da Via Sacra e demorando-se diante das estações, olharem com grande emoção e fervor para a luz que surgira acima do sepulcro.

         Assim não vi a SS. Virgem morrer e subir ao céu de modo comum; mas primeiramente se lhe tirou da terra a alma e depois também o corpo.
         Mais tarde, regressando à casa, os Apóstolos e discípulos tomaram algum alimento e depois se deitaram para dormir.

       
            Abertura do sepulcro de Maria


            Hoje, à noite (15 de agosto), permaneciam ainda os Apóstolos em oração e pranto, na sala. As mulheres já se tinham deitado. Então vi chegarem o Apóstolo Tomé e dois companheiros. Um desses tinha o nome de Jonatan e era parente da Sagrada Família. Oh! Como ficaram aflitos, ao ver que tinham chegado tarde! Tomé chorou como uma criança, quando ouviu narrar a morte de Maria. Os discípulos lavaram-lhes os pés e deram-lhes de comer. Nesse ínterim acordaram as mulheres e se levantaram e depois de terem saído do quarto, conduziram Tomé e Jonatam ao aposento onde a SS. Virgem morrera. Ali se ajoelharam os recém-chegados, regando o lugar com as lágrimas. Tomé ficou ainda muito tempo de joelhos, rezando diante do pequeno altar de Maria. Comoveu-me indizivelmente a sua tristeza.

         Os Apóstolos, que não tinham interrompido a oração, depois de acabarem, saíram todos, para dar as boas vindas aos recém-chegados. Tomando nos braços Tomé e Jonatam, levantaram-nos, dois ainda estavam de joelhos e abraçando-os, levaram-nos à sala anterior da casa, onde lhes ofereceram pãezinhos e mel; beberam também de pequenos jarros e cálices. Rezaram mais uma vez juntos e abraçaram-se.

         Depois manifestaram Tomé e Jonatam desejos de ver o sepulcro da SS. Virgem. Os Apóstolos acendram lanternas, firmadas sobre paus e todos foram pelo caminho da Via Sacra de Maria, em direção ao sepulcro. Falavam pouco; demoravam-se algum tempo diante das estações, recordando-se do caminho da cruz do Senhor e do amor compassivo da Mãe SSma., que ali pusera as pedras comemorativas e tantas vezes as regara com lágrimas.

         Chegados ao rochedo do sepulcro, ajoelharam-se-lhes todos em volta. Tomé e Jonatam, porém, correram à entrada; João seguiu-os. Dois dos discípulos afastaram um pouco os arbustos diante da entrada e eles entraram e ajoelharam-se respeitosamente diante do túmulo da Santíssima Virgem. João, porém, aproximou-se do leve caixão em forma de cesta, que sobressaia um pouco do leito sepulcral, desatou as três faixas, que lhes fechavam a tampa e colocou esta ao lado. Então fizeram convergir a luz para dentro e viram, com grande espanto e comoção, os lençóis mortuários vazios, ainda na mesma posição em que lhe tinham envolvido o corpo. Sobre o rosto e o peito estavam abertos. Os envoltórios dos braços estavam um pouco soltos, mas ainda com as dobras; o corpo glorificado de Maria, porém, não estava mais na terra.

         Admirados, de mãos erguidas, olhavam para o alto, como se o santo corpo nesse momento houvesse aparecido e João bradou para fora da gruta: “Vinde e admirai, ela não está mais aqui!”. Então entraram todos, dois a dois, na estreita gruta, viram os lençóis vazios no caixão e, saindo, ajoelharam-se todos e, olhando, com os braços estendido, para o céu, choravam e rezavam, louvando o Senhor e sua querida Mãe glorificada, que lhes era também ma boa e fiel Mãe. Louvavam-no como filhos piedosos, exaltando-o com doces palavras de amor, como o Espírito lhes inspirava. Então se lembraram bem daquela nuvem luminosa, que viram de longe, ao voltar do enterro e que descera sobre o rochedo do sepulcro e depois subira ao céu.

         João, porém, tirou respeitosamente do caixão as mortalhas da Santíssima Virgem, dobrou e enrolou-as, para as levar consigo; depois colocou novamente a tampa sobre o caixão, atando-a com as faixas, como dantes.

         Saíram da gruta, fechando de novo a entrada com os arbustos. Rezando e cantando salmos, voltaram pelo caminho da Via Sacra, para a casa de Maria.

         Fecharam completamente a entrada do sepulcro da Virgem Santíssima, chegando mais os arbustos e firmando-os com terra; alargaram também o fosso. Limparam o pequeno jardim diante do sepulcro e ornaram-no; cavaram também uma passagem para a parede posterior do sepulcro e ali abriram com cinzel uma janelazinha no rochedo, pela qual se podia ver o túmulo,onde tinha jazido o corpo da Mãe Santíssima, à qual o Salvador, morrendo na cruz, os entregara todos e sua Igreja, na pessoa de João. Oh! eram filhos fiéis, obedientes ao quarto mandamento e muito tempo viveriam na terra, guardando o seu amor.

         A maior parte dos discípulos presentes já se haviam despedido. Também os Apóstolos se separaram. Bartolomeu, Simão, Judas Tadeu, Felipe e Mateus foram os primeiros que, após uma despedida comovedora, voltaram ao campo de ação. Os restantes, fora João, que ainda ficou mais tempo, dirigiram-se juntos à Palestina, onde depois também se separaram. Estavam lá muitos discípulos; também várias mulheres viajaram com eles de Éfeso para Jerusalém.

         Parece-me que o sepulcro de Maria ainda existe debaixo da terra; há de descobrir-se um dia.

Fonte: Extraído do Livro "Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus - Anna Catharina Emmerich - Ed. MIR.



       © Últimas e Derradeiras Graças
           

         

          

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