Uma
pesquisa sobre as relações de gênero nas corporações policiais mostrou
que 57,4% das 2.415 policiais femininas entrevistadas acreditam que o
comportamento das mulheres no trabalho pode incentivar comentários
inapropriados ou assédio, tanto moral quanto sexual. Entre os policiais
masculinos que responderam à pesquisa, 63,2% compartilham da mesma
opinião.
Segundo a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(Fbsp), Samira Bueno, é preciso desmistificar essa visão porque as
mulheres não podem ser responsabilizadas pela violência que sofrem.
— É interessante ver como isso está colocado na cabeça das mulheres,
reflexo da cultura machista que faz parte da nossa sociedade —, disse.
Além disso, 40,4% das entrevistadas acreditam que as mulheres usam de
troca de favores sexuais para ascender hierarquicamente na instituição.
O Fbsp fez a pesquisa As Mulheres nas Instituições Policiais
em parceria com o Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da
Fundação Getulio Vargas, a Secretaria Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça e o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança
Pública da Universidade Federal de Minas Gerais.
Foram ouvidos 13.055 policiais em todo país, de 12 a 26 de fevereiro
de 2015, das polícias Civil, Militar, Técnico Científica, Federal e
Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros e guardas municipais. A pesquisa
foi respondida voluntariamente por meio de formulário eletrônico.
Das mulheres entrevistadas, 39,2% declaram ter sido vítima de algum
tipo de assédio (moral ou sexual) dentro da própria corporação. Dentre
essas, 74,5% se declaram vítimas de assédio moral e 25,5% afirmam ter
sido assediadas sexualmente, sentindo-se desrespeitadas ou forçadas a
dar consentimento. Entre os homens, dos 20,1% que declararam que foram
assediados, 95,6% sofreram assédio moral.
De acordo com a pesquisa, apenas 11,8% das policiais prestaram queixa
do assédio e, destas, 68% não ficaram satisfeitas com os desdobramentos
da denúncia. No caso dos homens, 11,7% prestaram queixa e desses 80,7%
não ficaram satisfeitos com o resultado. Entre os desfechos citados
estão o arquivamento da denúncia, sindicância interna, advertência
formal, transferência do denunciado, promoção do denunciado, além
daqueles que desconhecem o desfecho.
Segundo Samira, os resultados também mostram a perspectiva dos homens
em relação à mulheres e os níveis de violência a que são submetidas.
— As mulheres estão mais vulneráveis ao assédio. Se compararmos as
respostas, é mais comum para as mulheres perceberem piadas ou
comentários inapropriados como formas de violência e os homens não
entendem isso como ofensa. Mas 62,9% das mulheres passaram por essa
situação —, disse.
A diretora explicou que o objetivo da pesquisa era explorar as
relações de gênero nas instituições de segurança pública, tendo em vista
o crescente protagonismo das mulheres nesse trabalho. Segundo o Fbsp,
estima-se que o Brasil tenha cerca de 75 mil policiais femininas, ou
cerca de 12% do universo pesquisado.
— A maior parte das policiais não sabem como denunciar, as
corporações não tem fluxo definido para quando esse assédio acontece. As
corregedorias, em tese, podem receber denúncias, mas não têm protocolos
ou normativas, é muito subjetivo —, disse Samira. Entre os canais
utilizados pelos policiais para denúncias, segundo a pesquisa, estão a
Corregedoria e a Ouvidoria, delegacias de polícia, o Ministério Público e
as entidades de classe (associação ou sindicato).
Agência Brasil
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