CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O QUE RESTOU DA NAVE CAIU NA LINHA DO EQUADOR

Finalmente o módulo de carga Progress caiu na Terra, ou melhor, reentrou. Pouco depois das 23h desta quinta-feira (7), a agência espacial russa Roscosmos soltou um comunicado afirmando que o módulo tinha caído às 23h04 e ponto final. Nenhum comentário sobre como eles haviam chegado a essa afirmação.
Sem isso, analistas e "voyeurs" de lixo espacial questionaram se esse horário havia sido fruto de uma simulação ou uma observação propriamente dita. Simulando a órbita da Progress, o local da queda seria bem no meio do Oceano Pacífico, na altura da linha do equador.

Nave russa M-27M que seguiria para a Estação Espacial Internacional apresentou problemas


Alguns minutos depois, a USSTRATCOM, aquele órgão da defesa norte-americana que citei em posts anteriores, soltou um comunicado afirmando (baseado em simulações) que a Progress tinha caído um pouco mais tarde, às 23h20, com erro de 1 minuto para mais e para menos.
Com base neste horário, o módulo teria caído bem ao sul do Oceano Pacífico, a uns 1.300 km à oeste da costa do Chile, bem no finzinho da Terra do Fogo, bem próximo do local onde o terceiro estágio do foguete Soyuz 2-1A tinha caído alguns dias antes.
 Mas por que se fala em simulações? Não há acompanhamento "real" do módulo? E aqueles sites todos que mostravam em tempo real a posição dele?
O que acontece é o seguinte: é possível monitorar um objeto no espaço com dados "reais". Quando um satélite é posto em órbita, ele continuamente envia dados de telemetria para a Terra, que são captados por antenas ao redor do mundo e com esses dados é possível descrever a trajetória dele.
Há de se considerar que não existe uma linha de antenas perfiladas sobre a superfície para receber esses dados e, com isso, apenas as antenas que podem "enxergar" a passagem do satélite é que vão conseguir coletar esses dados. Monitoramento por radar também é feito, mas aí é até mais complicado, pois antenas assim são mais raras ainda.
O que se faz na realidade é usar todos os parâmetros da órbita de um satélite (a partir dos dados da telemetria e dos radares em Terra), como velocidade, apogeu (maior altura da órbita), perigeu (menor altura da órbita), por exemplo, para calcular sua trajetória. Isso é o que é mostrado nesses sites. Dependendo do caso, mesmo depois de cair, os sites ainda mostram o objeto em órbita por horas e até dias.
A previsão dos americanos é muito mais precisa, com uma margem de erro bem pequena, de modo que todos estão assumindo que ela esteja correta. A confirmação só pode ser feita se houver avistamento dos destroços caindo, que não deve ter ocorrido, pois não deve ter muita gente no final da Terra do Fogo. Mas é certo que a Progress não está mais em órbita, pois os radares de defesa americanos deixaram de detectá-lo.

 E quanto aos destroços, é possível resgatá-los?

 Em princípio, sim. Apesar do módulo ter sido projetado para se desintegrar na reentrada, algumas peças resistem às altas temperaturas do atrito com a atmosfera. Os motores, os cones de exaustão dos foguetes são fabricados para operar em temperaturas muito altas, não podem derreter. Já outras peças, como as rodas de inércia que ajudam a estabilizar a nave são muito densas, feitas de material maciço e dificilmente são destruídas na reentrada. Por esse motivo, a reentrada controlada sobre áreas remotas é tão importante.
Caindo no mar a coisa complica, claro. A localização é difícil (vide os casos dos aviões da Malaysia Airlines) e quase tudo deve afundar. Caindo em terra firme, a missão de resgate é um pouco mais fácil, mas só um pouco.
Os destroços não caem aglomerados em um ponto, mas sim espalhados em uma mancha sobre a superfície que pode ter até 800 km de extensão. A nave, quando reentra na atmosfera, tem uma alta velocidade de queda, mas em duas componentes, uma vertical e outra horizontal. A soma (vetorial) das duas é que dá a velocidade total. Como a nave entra bem de rasante, a componente horizontal da velocidade é muito grande, bem maior que a componente vertical, e é o que faz com que os destroços caiam em diferentes pontos da superfície.
 No caso da Progress, dado todos os elementos de sua trajetória final, a estimativa é que eles possam estar distribuídos ao longo de uma linha de até 800 km de extensão.

Esse mapa mostra aonde procurar.
 Mapa mostra possíveis locais da queda de destroços da Progress
As marcas em vermelho mostram o início (ponto A) e o término (ponto B) da janela de reentrada, 23h19 e 23h21 respectivamente, de acordo com o USSTRATCOM.
 Se a Progress reentrou na abertura da janela, os destroços devem ter caído entre as marcas azuis. Se reentrou no término da janela, os destroços devem ser procurados entre as marcas verdes.
A distância entre o primeiro ponto azul e o último ponto verde, o que representa a linha em que a probabilidade de se encontrar algum tipo de destroço é maior, é superior a 1.500 km e quase chega às Ilhas Malvinas, que estão no Oceano Atlântico! Apenas uma pequena parte desta linha de destroços está sobre terra firme, mesmo assim numa região bem remota.
 É bem provável que nunca tenhamos nenhum pedaço da Progress resgatado, mas como o sul da Terra do Fogo está no roteiro de aventureiros (no meu inclusive) pode ser que alguém acabe topando com alguma coisa.
Em tempo: não há artefatos radioativos e o propelente altamente tóxico usado nos jatos de manobra já deve ter se consumido com o calor da reentrada.


Imagens: AFP; Spaceflight101.com


G1

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