O dia 11 de fevereiro de 2016 foi um dos dias mais importantes na história da
astrofísica e talvez o dia mais importante para a ciência desde a descoberta do
Bóson de Higgs em 2013.
Há aproximadamente dois meses, os cientistas do Observatório de
Interferometria de Ondas Gravitacionais (LIGO) detectaram indícios de
ondas gravitacionais geradas pela fusão de dois enormes buracos negros,
cada um com massa de aproximadamente 30 sóis e que juntos formaram um
outro imenso buraco negro, desta vez com uma massa equivalente a de 64 sóis.
Os cálculos estimam que as ondas capturadas foram emitidas há 1,3 bilhão de
anos e representam algo único na história da humanidade, já que um fenômeno
desses (felizmente) não acontece todos os dias.
As ondas criadas por esse evento conseguiram abalar até mesmo o tecido do
espaço-tempo, algo que nunca havíamos presenciado antes, e isso é tão
importante porque, com a descoberta, fecha-se o conjunto de teorias que
dão base à hipótese de campo unificado de Einstein, que diz que o espaço
e o tempo são relativos, além de nos permitir ver o universo com um olhar
sensível às ondas gravitacionais.
O espectro visível da luz não é o único que a NASA e outras agências espaciais
utilizam para observar o espaço. Atualmente usam-se instrumentos com imensas
capacidades de detecção, sejam eles sensíveis à luz visível, luz infravermelha,
luz ultravioleta, sinais de rádio, entre vários outros tipos de onda.
Adicione as ondas gravitacionais a isso e bingo: temos mais uma forma de ver
o espaço, forma esta que nos permite enxergar algo que aconteceu há bilhões
de anos e está muito mais longe do que poderíamos imaginar. Fantástico, não
é? NASA À esquerda vemos uma imagem gerada por telescópios
infravermelhos, muito melhores para a detecção de calor que os telescópios
que utilizam a luz visível, como o visto à direita na foto. Mas talvez você já saiba
de tudo isso. Acontece que menos de meio segundo depois das ondas
gravitacionais terem sido registradas pelo LIGO, a NASA detectou – com o
telescópio Fermi – um fraco sinal de luz (mais precisamente raios gama) vindo
da mesma região. Pasmem, buracos negros não emitem nenhum tipo de luz
mesmo quando estão em fusão, tampouco deixam que a luz escape de seu
interior com sua inimaginável gravidade. Se essa questão intrigou você, imagine
como estão os cientistas da agência espacial norte-americana já que, segundo
eles, esses dois eventos têm 0,2% de chance de ocorrerem ao mesmo tempo
numa região tão próxima.
Até agora eles só afirmam que esse raio de partículas gama deve dar indícios
de onde ocorreu a fusão dos dois colossos. "Até o momento, os observatórios
de ondas gravitacionais têm uma visão muito embaçada dos eventos. Para o fenômeno de setembro (que veio a público no dia 11 de fevereiro), os cientistas do LIGO só puderam traçar a fonte de uma área que abrange aproximadamente 600 ângulos quadrados. Área angular sólida similar à que os Estados Unidos ocupam na face do planeta Terra", disseram os especialistas.
A imagem da área que eles estavam procurando (antes da descoberta da NASA sobre o feixe de luz radioativo) está logo abaixo: NASA "Assumindo que o feixe de raios gama está ligado ao ocorrido em setembro, se usarmos a localização do telescópio Fermi e sua visão de onde ocorreu a emissão da luz, podemos reduzir a área de busca pela fonte das ondas gravitacionais para aproximadamente um terço da estimativa que tínhamos antes". Já no vídeo a seguir, é possível ver como o telescópio Fermi ajudou a reduzir a área de busca dos cientistas: Assine nosso canal e saiba mais sobre tecnologia!
Embora a misteriosa luz nos traga respostas sobre o acontecido, ela também
traz perguntas.
Já questionamos o fato da fusão entre dois buracos negros emitir um raio de luz
que foi visível a uma enorme distância, justamente por se tratar de corpos
conhecidos por não permitir a existência de luz próxima ao seu horizonte de
eventos.
Constatando isso, o acontecimento levanta duas hipóteses possíveis: a
primeira é a de que tudo se trata de uma coincidência e a luz captada não
tem nada a ver com o buraco negro (atualmente chamado de GW150914),
o que a NASA afirma ter 0,2% de chance de ser verdade.
Ou então podemos ficar com a segunda hipótese, que afirma que sim, buracos
negros podem emitir luz quando se fundem e com isso estaríamos
redondamente enganados em nossa forma de pensar sobre como eles se
comportam ou atraem outros corpos para si, incluindo a luz que, nessa fusão,
conseguiria escapar de sua enorme gravidade, ao contrário do que pensávamos.
De fato, com tudo isso só podemos constatar uma coisa: a máxima de que toda
descoberta da ciência leva a um outro infinito número de perguntas.
Incrível, não é mesmo?
Fonte: ScienceAlert
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