HOMILIA DESTA SEXTA

Sexta-feira, 21 de abril de 2017

Jo 21,1-14

1. Jo coloca a pesca milagrosa no final, depois da ressurreição de Jesus, enquanto Lc a coloca no início da vocação dos apóstolos (Lc 5,1-11). Ambos colocam Pedro como figura central, dando ênfase também ao discípulo amado, que por primeiro anuncia que é o Senhor. Importante notar que esse discípulo amado esteve aos pés da cruz; também foi ele quem primeiro chegou ao túmulo, mas respeitou a primazia de Pedro, e só entrou no túmulo depois, e aí “viu e acreditou”; também agora, é o mesmo discípulo amado quem percebe a presença do Senhor. Outro dado importante é que ele sempre se encontra ao lado de Pedro, que, por sua vez, é louco por Jesus, não teme os perigos, lança-se sem medo, mesmo que depois peça socorro, como aconteceu ao andar sobre as águas; é impetuoso, entusiasta, diz o que lhe vem na testa, não pensa duas vezes em afirmar: “A quem iremos, tu tens palavras de vida eterna”; “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”; “Darei a minha vida por ti”; cortou a orelha do soldado Malco; traiu o seu Senhor; chorou amargamente; e, agora, lança-se na água e corre ao encontro de Jesus, de quem recebe a missão de apascentar toda a Igreja, a Esposa do Salvador.

2. Passaram a noite e não pegaram nada. A pesca é a ação evangelizadora no mundo. Sem o envio de Cristo, sem Sua Graça, é impossível haver sucesso na missão. Por mais difícil e boa vontade que existam, não haverá possibilidade de se fazer algo transformador sem a vontade de Deus. Nada se pode fazer sem Cristo (Jo 15,5). Somente com o mandato de Jesus, somente quando forem enviados, depois de receberem o Espírito Santo, é que a missão dará verdadeiros frutos, a pesca realmente alcançará sucesso. Obedecendo ao Senhor, eles pegaram muitos peixes, foi um milagre. A missão é um milagre de Deus na preparação, escola e realização, pois, antes de tudo, é necessário que o homem se converta para, somente depois, sair pelo mundo, segundo a vontade do Senhor, proclamando a vitória de Jesus na cruz e Sua ressurreição para a nossa salvação.

3. O mar simboliza o mundo, mas também o mal. A barca é uma imagem da Igreja. A pesca é sinal da missão. Os apóstolos devem, no mundo, como luz, iluminar os que vivem nas trevas e lançar as redes (missão), a fim de tirar das águas (da morte, do pecado, do domínio do mal) todo a humanidade. Essa missão tem a iniciativa do próprio Salvador, o dom do Espírito Santo e o Envio pelo mundo inteiro (cf. Jo 20,20-23; Mt 28,19; Mc 16,15). A comunidade missionária (a Igreja) não existe sem a presença do Senhor, amizade com Ele e abertura ao Espírito Santo. O convívio com o Senhor é a essência da realidade da Igreja. Tal convívio se manifesta, de modo especial, na mesa da Palavra e da Eucaristia.

4. Para a realização dessa vida eclesiástica no convívio com o Senhor, Pedro assume um papel de destaque impressionante por vontade do mesmo Jesus. O texto acima deixa claro alguns pontos: Pedro toma a iniciativa de ir pescar, também ele é quem primeiro corre ao encontro do Senhor e é ele ainda quem traz para a praia a rede repleta de peixes. A figura de Pedro aparece como sendo um líder, despojado, servo, ao lado do discípulo amado, que parece mais um teólogo, com mais profundidade nas coisas do Senhor, mais intimidade com a realidade da fé. Os dois estão no centro do texto como aqueles que, no reconhecimento do Senhor, na obediência à Palavra de Deus e no lançar-se ao encontro do Mestre, demonstram como deve ser a vida eclesiástica, a vida dos discípulos na presença do Mestre e Senhor Jesus Cristo, sem o qual é impossível qualquer empenho comunitário.

Um forte e carinhoso abraço.

Pe. José Erinaldo